segunda-feira, 21 de junho de 2021

Concurso Uma Aventura … Literária 2021

 

Uma aventura entre linhas

            A animação dentro do comboio era descomunal. Os rapazes jogavam à “sardinha” enquanto as gémeas conversavam com Duarte, um menino sapientíssimo e com um belo e jovem semblante. Apenas havia o azar deterem de deixar os cães em casa, pois a CP não tolerava animais de estimação a bordo.

            - Vais para a cidade mais alta de Portugal? – interrogou Luísa.

            - Sim, quis aproveitar os primeiros dias de férias da Páscoa junto dos meus avós e agora estou de regresso a casa, na Guarda.

            - Nós também. Estamos a pensar em acampar por aí! - declarou Teresa.

            Quando uma voz soou pelas carruagens a informar que a próxima paragem era a Estação, datal cidade da Beira Alta, nem ligaram. Mas as horas de trabalho do maquinista chegavam ao fim... Este dirigiu-se a eles e ordenou, como se os quisesse ver longe o mais rapidamente possível:

            - Caros jovens, imagino que este seja o vosso destino. Saiam!

            A mando do homem, abandonaram o meio de transporte e enfiaram-se no quiosque. Lá, uma multidão desfolhava os jornais que estavam à venda.

- Vejo que estão com frio... venham para minha casa! Os meus pais teriam todo o gosto em receber-vos. Mas antes, vou comprar um molho de revistas para o meu pai! - disse o novato do grupo.

            Todos lhe agradeceram e, como uma flecha, Duarte fez o que tinha a fazer. Chamou um táxi e daí a um bocado, já estavam à porta de uma bela vivenda, caiada de branco. Quem a veio abrir foi um casal.

- Olá, pais! Trouxe comigo uns amigos que conheci no comboio. Vieram de Lisboa e gostaria de os acolher na nossa casa. Há camas suficientes, comida não falta e atividades para realizarmos também não. Posso dar-lhes guarida?

- Com todo o gosto. – respondeu prontamente o pai do Duarte. – Entrem que a Guarda é fria e ainda congelam aí fora!

Foram acolhidos com muita bondade, jantaram com fartura vários pratos típicos da região, ainda trocaram palavras sobre os planos do dia seguinte e foram-se deitar.

Mal o sol raiou, Pedro levantou-se sorrateiramente, tirou o telemóvel do saco que tinha trazido e colocou no motor de busca, Google Maps. Abriu o primeiro site que surgiu, com o objetivo de conseguir informações sobre o trilho “Ente Linhas”: tinha uma extensão de oito quilómetros e durava cerca de três horas a percorrê-lo. Acordou os companheiros e até mesmo o anfitrião mais novo da casa.

Tomaram o pequeno almoço, servido pela mãe de Duarte, equiparam-se a rigor e lá foram eles realizar o belo trilho!

- Iremos passar por estradas secundárias e caminhos rurais, quase sempre entre as linhas do comboio...

- Calculo que seja essa a razão para o nome do itinerário... – rematou o João.

- Nem mais. É circular e acaba aqui no POLIS, que também é o local da nossa partida.

            Pedro, com um ar de nerd, acrescentou às palavras do guardense a sua pesquisa. Todos ficaram um pouco desiludidos pela demora imensa do passeio, exceto Duarte, que conhecia aquilo de trás para a frente.

Passados uns minutos, encontraram umas carruagens cor-de-rosa que não estavam sobre o caminho férreo. Tinham um ar deserto, mas ainda não se podiam considerar abandonadas, velhas ou coisa do género. Como a curiosidade de dar uma espreitadela era imensa, decidiram entrar em fila indiana no primeiro acesso que vislumbraram. À primeira vista, só havia o expectável: assentos. Mas quando saltaram para a outra carruagem, deram de caras com um número incontável de computadores. Determinados dispositivos estavam ligados, outros quebrados... Pedro chegou-se a um aparelho que estava ativo.

- Dados pessoais... estão a roubar informações privadas... Enquanto realizo esta minha investigação, pormenorizadamente, vejam o que revelamos restantes portáteis para poder tirar ilações.

- Aqui há uma apresentação em PowerPoint sobre a localização de um casal que habita na Guarda, ou seja, onde nos situamos e também um estratagema qualquer! – respondeu prontamente o Chico.

As gémeas analisaram outro computador e leram em voz alta alguns nomes dos artigos espalhados pelo ambiente de trabalho: “Ouro - Maria Jesus – Guarda; Diamantes -Rita Paiva - Guarda; Pinturas valiosas – José Alberto – Guarda...”.

Não foi necessário o Duarte e o João terem trabalho, pois as conclusões de Pedro já estavam quase todas tiradas:

- Existe uma rede criminosa que obtém as localizações exatas de pessoas egitanienses e estrutura planos para assaltarem as suas habitações. Este deve ser o seu esconderijo! Como consegui ver que o penúltimo acesso daquele computador foi ontem à noite, a quadrilha é atual. Mas, para ter a certeza total, vou dar uma olhada rápida às definições dos outros aparelhos.

Mal Pedro proferiu estas palavras, o telemóvel do Duarte chamou. Era a sua mãe, para os mandar vir embora, mas inventou uma desculpa qualquer para apenas ir ele.

- Não se demorem muito! O caminho para casa é apenas o inverso ao que fizemos. Amanhã fazemos o trilho, porque hoje, nem um décimo percorremos. Eu digo aos meus pais que gostámos muito e que queremos voltar a repetir... Uma mentira deste tamanho não tem problema. Adeus!

Daí a bocado, os perfazimentos extinguiram-se de vez e, quando se dirigiam para a residência do amigo... Pum... um tiro soou mesmo atrás deles. Um dos homens do grupo, com cara de malfeitor, tentou apanhá-los, mas desataram a correr.

- Se fogem, acerto-vos com balas. Aqui, agora!

Cheios de medo, obedeceram automaticamente, como se os corpos fossem telecomandados. O mesmo senhor que os ameaçou, enfiou-lhes mordaças na boca, atou-lhes os pés e as mãos e colocou-os exatamente por cima das linhas férreas.

- Desfrutem! – gozou agora o chefe deles, que não era nada mais nada menos do que o maquinista.

Os vilões entraram nas carruagens, com ar de vingança e desapareceram entre os bancos.

Finalmente a sós, através do olhar, transmitiram uns aos outros a sensação de não saberem como se livrariam daquela situação. Até que tocou o telemóvel do João...O rapaz guardense estava preocupado com eles e só percebeu que estavam mesmo em apuros quando recebeu uma mensagem escrita pelas mãos enlaçadas de Luísa. Em resposta, o Duarte confirmou as conclusões de Pedro, informando-os de mais sete assaltos na noite anterior que formaram uma notícia para a televisão. Avisou-os que já tinha ligado para as autoridades e que, então, finalmente a ajuda ia a caminho.

De seguida, já se ouviam as sirenes bem perto da “toca dos lobos”, cercando-a com carros e carrinhas. Mal os criminosos saíram da carruagem, a pensar que ainda teriam hipótese de escapar, tiveram uma surpresa desagradável: ficaram, cada um, debaixo de respetivo polícia; também lhes foram colocadas algemas e foram levados à esquadra para prestarem declarações.

Duarte e os pais soltaram os seus “hóspedes”.

- Quase que eram as linhas que vos davam cabo da vida! Amanhã, vimos todos realizar o trilho! Vai ser altamente! Vamos todos celebrar a vossa astúcia e coragem! No futuro vocês vão ser uns autênticos investigadores. - festejou a mãe do Duarte.

Riram a bom rir e foram para casa deles com a sensação de dever cumprido!


Gonçalo Valgôde, 6ºC

Agrupamento de Escolas da Sé, Guarda

Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo