O
dia 16 de Novembro foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) como
o Dia Internacional para a Tolerância. Esta é uma das muitas medidas da ONU no
combate à intolerância e não aceitação da diversidade cultural.
Tolerância
é um termo que vem do latim "tolerare" que significa "suportar",
"aceitar". A tolerância é o ato de indulgência perante algo que não
se quer ou que não se pode impedir.
A
tolerância é uma atitude fundamental para quem vive em sociedade. Uma pessoa
tolerante normalmente aceita diferentes opiniões ou comportamentos diferentes
daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Este tipo de tolerância é
denominada "tolerância social".
No
passado dia 2 de outubro, quando regressava do parque, perto da minha casa vi
uma águia.
Ela
estava num pilar de um terreno à frente da minha casa. Saí do carro e fui a
correr para a observar. Tinha umas penas castanhas e nas asas pintas brancas.
Passados
alguns dias voltei a vê-la no mesmo local.
Dia 18 de setembro de 2016 de manhã houve uma comemoração da escola E.B
Alfarazes. Vieram pais, crianças, senhores da câmara e os presidentes da câmara
e da junta de freguesia.
Uma das crianças, a Irís cortou a fita. Muitas crianças
divertiam-se enquanto outras estavam com vergonha. Todos estavam espantados com
o aspeto das salas de aulas e de seguida todas as crianças foram para a sala da
turma B a tentar adivinhar:
-Qual é a pessoa mais
importante desta escola?
Antes de decifrar a resposta a professora da turma B mandou cada criança olhar para caixa, porque era lá
onde estava a resposta. Quando algumas das crianças viram o que estava dentro
da caixa começaram a rir-se mas não tinham nada de o fazer porque aquilo era a
sério.
A resposta certa são todos aqueles que fazem parte da nossa escola.
O Dia
das Bruxas é conhecido mundialmente como um feriado celebrado principalmente
nos Estados Unidos, onde é chamado de Halloween.
Em Portugal, a tradição um pouco
diferente, tem como característica o peditório pão-por-Deus. É
um peditório ritual feito por crianças, embora antigamente participassem também
os pobres, associado às práticas relacionadas com as refeições cerimoniais do
culto dos mortos.
Cantava-se assim às portas:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu’estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz
.
Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
.
Faz
favor de vir cá fora para dar
Um bolinho ou tostãozinho
Este ano, no dia 5 de outubro, completam-se 50 anos que foi publicada pela UNESCO e pela OIT a recomendação relativa à condição docente.
Não temos hoje dúvidas pela investigação e pelo bom senso – aqui as duas perspetivas estão de acordo – que um bom professor é determinante para a qualidade dos sistemas educativos. É mesmo habitual dizer-se que “nenhum sistema educativo é melhor do que os seus professores”. E aqui começam a desfilar as condições que se consideram essenciais para que um professor possa estar à altura de ser a peça-chave da Educação ela própria considerada a peça-chave do Desenvolvimento, da Sustentabilidade e da Justiça Social. Deste desfile de condições de sucesso – estavelmente descritos da literatura de especialidade – chamaria a atenção para três deles: o conhecimento, a comunicação e o compromisso.
Precisamos de professores com conhecimento. O conhecimento que o professor precisa de ter é muito alargado: precisa de conhecer – entre outras áreas – o que ensinar (e não só o que vem nos manuais escolares), precisa de conhecer o aluno (e sobretudo a forma como ele aprende melhor), precisa de conhecer capazmente o meio sociocultural onde está a sua escola e os seus alunos. Outra condição imprescindível é a comunicação. Um professor é uma profissional cujo sucesso está muito dependente da interação que ele estabelece com os outros. Paulo Freire ensinou-nos que “… os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo”. Os professores estão mergulhados nesta dinâmica de intensas interações com os alunos, com os seus colegas, com as famílias. A capacidade de comunicar, de encontrar as formas mais eficazes que conduzam ao estabelecimento de relações respeitosas, de aprendizagem, positivas e frutuosas são uma parte imprescindível do seu trabalho. Por fim precisamos de professares que se sintam atores implicados na Educação. Profissionais motivados, que tenham e alimentem elevadas expectativas sobre a importância sua ação, sobre a imprescindibilidade da Educação e a obrigação de “não deixar nenhum aluno para trás”.
Para disporem destas condições de sucesso os professores têm que afastar algumas ameaças que pairam sobre a sua profissão. Precisamos que os professores mantenham e desenvolvam a sua autonomia como profissionais com possibilidade de gerir o currículo. Se o currículo for espartilhado e uniformizado, certamente que o professor verá o seu conhecimento muito restringido. Não seria mais que um “dador de aulas” que outras pessoas conceberam. Se o professor não tiver tempo e espaço para usar múltiplas formas de comunicação e representação do conhecimento, ele vai certamente tornar-se obsoleto e cumprir a profecia da sua irrelevância. Se o professor não dispuser de ambientes positivos, de confiança, de apoio, de segurança que lhe permitam fundamentar o seu compromisso, ele será um profissional burocrático e incapaz de ter ou transmitir esperança no resultado do seu trabalho.
Os professores têm, no meio de tantas vicissitudes, conseguido manter uma postura de grande dignidade e relevância social. São eles que, na trincheira da frente, são os elementos essenciais para a construção do conhecimento, para o estabelecimento de relações humanas justas e equilibradas, são eles que constituem a alavanca que multiplica e amplifica sonhos e saberes. E, no entanto, muito se fala das fraquezas dos professores. Quase toda a gente está disponível para dizer aos professores o que eles deveriam fazer. A essas pessoas os professores recomendam que antes de falar “caminhem nos nossos sapatos”, vão ver o quão desgastante e exigente é o nosso quotidiano.
Mais um ano letivo se inicia...com ele, muita expetativa, novos projetos,
novos anseios e muitos sonhos.
Dou as boas
vindas a toda a comunidade educativa: alunos, pais, professores e assistentes
operacionais e técnicos, certos de que o caminho para o sucesso exige muito
empenho, persistência e dedicação. Uma certeza podem ter, estarei sempre
disponível para colmatar eventuais fragilidades, superar adversidades e
caminhar lado a lado na construção de uma escola de qualidade e com qualidade em
parceria com a família, elemento fulcral na construção de um ambiente de
aprendizagem salutar e propício ao desenvolvimento do projeto de aprendizagem
de cada aluno em particular, respeitando as vivências e a individualidade de
cada um, estimulando a partilha e a solidariedade entre todos.
Os alunos do 3.º ciclo da Escola
Básica de São Miguel participaram no Simpósio Internacional de Arte
Contemporânea, na cidade da Guarda, com uma composição plástica que tem como
elemento central uma canastra de onde caem sardinhas, interpretadas expressivamente
com a utilização de múltiplos materiais, técnicas e linguagens.
A instalação encontra-se exposta
no Paço da Cultura, podendo ser objeto de fruição para todos os que a queiram
apreciar.
Antes de mais, queria saber se está tudo bem contigo e com o nosso
filhinho António. Desculpa não ter dado notícias mais cedo, mas como tu deves
imaginar, isto aqui está um caos. Mas não te preocupes, que eu estou bem.
Este mês que passei longe de casa foi muito difícil,
primeiro por causa das saudades que tenho de vós. Depois porque estes últimos
dias têm sido um verdadeiro inferno, muitos dos meus colegas perderam a vida e
o meu melhor amigo e companheiro de guerra vai ter que ser amputado. Para a semana vamos ser transferidos para um local chamado
La Lys. Dizem que está lá um grande exército alemão e os aliados precisam da
nossa ajuda. Prevejo tempos muito complicados! Não imaginas o quão difícil é a vida nas trincheiras. Está
tudo lamacento, há pouca comida e a que há mal chega para todos e está muito
desidratada. Também há piolhos, pulgas e ratos que são muito piores que os
inimigos, pois trazem muitas doenças e quando estamos a combater só temos vontade
de nos coçar. O inimigo tem atacado com armas novas. Uma delas, é um gás
tão forte, que a maioria cai logo ao chão e até o próprio inimigo tem de usar
uma máscara. A outra é a metralhadora, que dispara milhares de balas por minuto
e por isso a trincheira fica cheia de homens mortos aos nossos pés. Como se não bastasse isto tudo, o frio é tanto que neva há
já vários dias. Apanhei uma terrível constipação e não paro de tossir. As
noites são tremendas, não consigo dormir por causa dos disparos, passo a maior
parte do tempo sobressaltado. Os minutos parecem dias! Pensar em ti e no António, é o que me tem dado forças para
continuar a lutar! Peço-te que rezes por mim. Eu também tenho pedido a Deus que
a guerra acabe o quanto antes, mas parece-me que o fim não está próximo. Prometo que volto são e salvo para vos abraçar. Não me
esqueço que o nosso querido filho faz 3 anos daqui por duas semanas. Por favor
dá-lhe os meus parabéns, porque eu sei que não vou poder estar presente.
Fala-lhe de mim que é para ele não se esquecer que o adoro. Do teu amado Rafael
Há mulheres que trazem o mar nos olhos Não pela cor Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos Ficam para além do tempo Como se a maré nunca as levasse Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens... Há mulheres que são maré em noites de tardes... e calma
No dia 26 de fevereiro, os alunos da turma ALF A, da Escola Básica de
Alfarazes fomos à Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço.
Com alguns alunos da escola da Póvoa do Mileu, participámos numa ``oficina
da encadernação”.
Às 14H chegou o autocarro para nos levar e quando chegámos começámos por
ver quadros de José Augusto de Castro.
Noutra sala fomos falar sobre
encadernação de livros. O senhor Nuno mostrou-nos as várias partes de um livro:
capa , contracapa, lombada, cabeça, pé seixa, folhas de guarda, mioloe o título. Ensinou-nos a coser o miolo de um
caderno ou livro e a pôr a capa.
Como recordação, ofereceram-nos
uma espécie de livro de notas, que cada um de nós coseu, para nos lembramos
daquele dia, e de como são feitos os livros e cadernos que utilizamos todos os
dias.
Dia quatro de fevereiro, estiveram na Escola Básica de
Alfarazes a GNR-Guarda Nacional Republicana- e os meninos de cinco anos do jardim
de infância de Alfarazes.
A GNR veio fazer uma ação sobre Segurança.
Os meninos vieram aprender como são algumas atividades na escola, porque para o
ano vão para o primeiro ano. Quando tocou, estávamos todos a comer e os agentes
antes de se irem embora ligaram a mais quatro agentes da GNR, que traziam três
cães. Estes mostraram truques, esconderam droga
numa mala e os cães tinham de adivinhar onde estava. Como os cães se portaram bem e nós também,
pudemos brincar com eles. Eu adorei as nossas visitas!!!!
(Inês Soares)
No dia quatro de fevereiro, vieram alguns alunos do Jardim de Infância
de Alfarazes e dois senhores da GNR: o Sr. António Varandas e o Sr. Gonçalo
Paiva. Depois de se apresentarem, falaram-nos um pouco da GNR e do que faziam. Falaram-nos
sobre a segurança e das especialidades da GNR que existem, como por exemplo: Os
que treinam os cães, os que vigiam as florestas; os que patrulham as estradas.
Mostraram-nos um PowerPoint a falar sobre a
GNR. Explicaram-nos que a GNR quer dizer Guarda Nacional Republicana. E disseram-nos
que em Portugal eles têm 600 quarteis,230 cães,550 cavalos e 25.000 agentes Depois
mostraram-nos um vídeo sobre a evolução dos polícias, desde a altura dos reis
de Portugal. A seguir, chegaram dois cães e uma cadela.
Os dois tratadores estiveram a mostrar-nos as suas habilidades: os tratadores
diziam para parar e eles paravam, etc. Por fim, chegou a vez da cadela Fany, perita
em encontrar droga. O tratador pôs várias malas e pediu a uma menina para
escolher uma mala e esconder a droga e ela encontrou-a à primeira. Adorei a ação! Quero repetir! Eu sei que tive muito medo dos cães mas
consegui perder um bocado desse medo.
(Érica
Pires, 4º ano)
O Agrupamento
de Escolas da Sé, através da Escola Secundária da Sé e da Escola Básica de S. Miguel, participa
na edição deste ano do Programa
Parlamento dos Jovens. O programa Parlamento dos Jovens é uma iniciativa da
Assembleia da República,organizada em colaboração com o
Ministério da Educação, o Instituto Português da Juventude e outras entidades,
com o objetivo de promover a educação para a cidadania e o interesse dos jovens
pela participação cívica e pelo debate de temas da atualidade. É dirigida aos
jovens dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário e culmina
com a realização de duas Sessões Nacionais no Parlamento. Para o ensino
secundário, o tema a debate este ano é “Portugal: assimetrias litoral/interior
- que soluções?”.
Para o básico, Discriminação, preconceito e racismo. O objetivo deste programa é conseguir
chegar à fase nacional, que decorrerá na Assembleia da República, e fazer
aprovar as propostas defendidas pelos deputados da nossa escola/agrupamento.
A sessão
de esclarecimento sobre o Parlamento dos Jovens - Edição 20015-2016 - reuniu
dezenas de alunos que debateram o tema “Racismo, preconceito e discriminação”.
Esta iniciativa contou com a presença do Dr. Carlos Peixoto, deputado
do PSD, eleito pelo círculo da Guarda, e da Dra. Ana Couto, socióloga. O
espaço do refeitório da Escola de S. Miguel - Guarda foi, no dia 12 de janeiro de 2016, palco de mais
uma dinâmica e participada atividade inserida no programa Parlamento dos
Jovens, contando com grande anuência dos alunos do terceiro ciclo. Os
participantes ouviram e manifestaram grande interesse pelas
temáticas em debate, já anteriormente desenvolvidas, quer individualmente, quer
em grupo-turma, no âmbito das aulas de Educação para a Cidadania, com a
colaboração de cada diretor de turma e com a contribuição pontual de uma Estagiária
da EAPN Portugal/Núcleo Distrital da Guarda, Rita Mouro, no contexto da
aplicação do projeto “Vamos fazer a diferença”.
Nesta sessão de debate, os
alunos, com o apoio do deputado da Assembleia da República (parte da
manhã) e da socióloga (parte da tarde) tiveram a oportunidade de debaterem e aprofundarem
problemáticas relacionadas com racismo, preconceito, e discriminação. Neste
projeto, estiveram envolvidos mais de oitenta alunos de terceiro ciclo, divididos
em oito listas (A; B; C; D; E; F; G; H), que defenderam de forma entusiástica
as medidas que propunham. A eleição para a
distribuição dos deputados que irão representar o Agrupamento de Escolas da
Sé/Escola Básica de S. Miguel na Sessão Distrital
realizou-se no dia 14 de janeirode 2016 com uma ampla adesão às urnas.
Desta eleição, saiu vencedora a Lista A, com 82 votos, e 10
deputados,logo seguida da Lista D, com 77, e, igualmente, 10 deputados. Este ato eleitoral permitiu a todos os
participantes contactar com as normas de funcionamento da democracia.
A Sessão Escolar teve lugar cinco dias
depois, terça-feira, dia 19, pelas 10
horas e 30 minutos, na Biblioteca
Escolar Carvalho Rodrigues, da Escola
Básica de S. Miguel, para a apresentação, análise e aprovação das medidas a
implementar no combate contra o racismo, preconceito e discriminação. Nesta Sessão Escolar foram
eleitos por voto secreto para a Sessão Distrital os seguintes deputados: Rafael Costa, João Fernandes, Ana Rita Brito, Mariana
Marques, Micael Coelho Suplente: Germano Nunes. As medidas
vencedoras serão apresentadas na Sessão
Distrital a realizar no dia 1 de marçode 2016.
É de
realçar que ficámos agradavelmente surpreendidos
com as propostas tão interessantes, pertinentes e pragmáticas apresentadas pelo
grupo de jovens interveniente. Queremos, de facto, acreditar que poderão ter
reconhecimento junto da Assembleia da República e demais participantes.
Em 1931, Simone Weil
tornou-se professora numa escola secundária para moças em Le Puy,
onde ganhou outro um exótico: "Virgem Vermelha", algo como um misto
de freira
e anarquista.
Compartilhava a prosaica atividade do magistério com períodos exaustivos
trabalhando em fazendas e fábricas, método pelo qual encontraria "o tempo
como condição e o espaço como objeto" de sua ação, pois segundo seu
pensamento, o mundo é o lugar adequado para um intelectual estar, ajudando as
pessoas a refinarem seus poderes de observação e capacidade crítica; e que o
papel apropriado para a ciência é permanecer integrada com a vida produtiva,
sem a qual, torna-se meramente um sistema remoto de sinais vazios. Depois de
dizer para suas alunas que "a família é prostituição legalizada... a
esposa é uma amante reduzida à escravidão", foi transferida de escola e de
cidade.Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos
republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres; por ser
bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida
de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida
aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de
racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado
de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar
em Ashford,
24 de agosto
de 1943.
Ella Lingens, embora
"ariana de raça pura "foi levada para Auschwitz por esconder judeus;
como médica, foi obrigada a trabalhar ao lado de Mengele, o "Anjo da
Morte", e testemunhou algumas das atrocidades por este praticadas. Faleceu
em 2002.
"Tinha um futuro promissor à sua frente. EllaLingens
fora uma das alunas mais brilhantes da Faculdade de Medicina, casara com um
colega e tinha um filho de caracóis louros que estava a aprender a balbuciar
"mamã". Acabou em Auschwitz, a trabalhar sob as
ordens do "Anjo da Morte", Josef Mengele." Adam Pieczynski
No dia em que passam
70 anos da libertação dos prisioneiros, e para assinalar um acontecimento
histórico, o Expresso disponibiliza online um texto publicado originalmente a
28 de janeiro de 1995.
Ella Lingens
era admirada nos cafés de Viena pelas suas convicções sociais-democratas, andar
emancipado e provocante, e fascinantes olhos azuis. Quando escondeu, no andar
onde morava, judeus perseguidos pelos nacionais-socialistas e os ajudou a sair
do país, não sabia que uma cadeia de infortúnios e denúncias a levaria ao pior
pesadelo da sua vida.
Como
prisioneira em Auschwitz, teve de trabalhar sob as ordens do "Anjo da
Morte", Josef Mengele, um médico tão brilhante como diabólico, que
distribuía chocolates pelas crianças judias e ciganas, antes de as submeter a
experiências e torturas atrozes ou de as conduzir pessoalmente para as câmaras
de gás, no seu descapotável verde.
Agora, aos
87 anos, meio século depois da libertação de Auschwitz, Ella conserva ainda a
determinação e a vontade de viver que a salvaram da morte. A sua figura frágil,
encolhida num enorme cadeirão, domina suavemente o ambiente da casa rústica
onde mora, nos arredores de Viena.
EllaLingens
foi obrigada a escolher entre a vida e a morte dos seus doentes, "como se
fosse Deus", pois não podia desperdiçar medicamentos escassos, em casos
que pareciam irreversíveis. "A quem dar os medicamentos, a uma mãe com
muitos filhos ou a uma rapariga nova?" - tinha de perguntar a si mesma.
"A quem administrar uma injecção, a um velho que, em qualquer caso, vai
morrer, ou dividi-la por dois jovens?"
EllaLingens
era catalogada pelos burocratas do Terceiro Reich como "uma ariana de raça
pura", o que lhe permitiu esconder os seus amigos judeus sem que
desconfiassem dela. Na "Noite de Cristal", em Novembro de 1938,
quando os judeus foram espancados nas ruas, as suas casas e lojas destruídas e
os seus livros queimados, alguém tocou à porta do andar onde moravam os
Lingens. Era o engenheiro Wiesenfeld, que chegou de pijama, a tremer, para se
refugiar em casa deles, trazendo na mão uma escova de dentes.
Pela janela
chegava um ruído insuportável, de vidros a estilhaçarem-se, bramidos e gritos
das hordas nazis, e o engenheiro Wiesenfeld disse-lhes: "Invejo-vos."
"Porquê?" - perguntouElla. "Porque vocês não são judeus". O
refugiado ficou três semanas e foram chegando "mais e mais".
Finalmente, o andar estava tão cheio, conta Ella, "que o meu marido e eu
fomos morar para o hotel".
Foram meses
de tensão trágica, e por vezes absurda. Erika, uma jovem de 19 anos, a última
judia que esconderam, fê-los passar o susto de vida deles, quando, farta da
rotina da vida clandestina, de estar fechada e de apanhar calor, resolveu tomar
banho de sol nua, no parapeito da janela do "atelier" onde moravam os
Lingens. Os alunos de um liceu que ficava em frente do edifício pensaram que se
tratava de uma louca suicida e chamaram a polícia. "Não nos descobriram
por milagre" conta Lingens. Antes que os homens de uniforme forçassem a
porta do andar, chegou uma amiga da família, "completamente ariana",
que convenceu a polícia de que fora ela que estivera a tomar banho de sol.
Mas Ella
confiou demais na sorte e continuou a arranjar documentos falsos para que os
perseguidos pudessem partir para o exílio, acabando por ser denunciada à
Gestapo.
Médica à
força Chegou a
Auschwitz no fim do Inverno de 1942. Aí começou, pela primeira vez, a praticar
medicina, no barracão das prisioneiras alemãs e austríacas doentes. Trabalhou
às ordens de vários médicos, o último dos quais foi Mengele. Recorda o Dr.
Rohde, um SS, que, para suportar as escolhas de vítimas para as câmaras de gás,
no pavilhão dos doentes ou no cais da estação de caminho-de-ferro, "se
embebedava até quase ficar inconsciente".
Não havia
camas suficientes e os doentes dormiam aos três e aos quatro nos beliches.
Havia piolhos, epidemias de febre tifóide e grassava uma doença contagiosa
causada pela desnutrição, que perfurava a pele até aos ossos. "A minha
vida lá era como se me tivesse oferecido hoje como voluntária para combater uma
epidemia no Bangladesh ou no Ruanda, um trabalho esgotante, para ajudar as
pessoas, sem saber o que acontecia ao lado", diz Lingens.
Na pior
época da epidemia de febre tifóide, Lingens tinha a seu cargo 750 doentes.
"Foi justamente Mengele, que dividia o seu tempo entre as experiências
brutais com gémeos e anões e o trabalho de organização sanitária, que travou a
epidemia." Evacuou os 1500 doentes de um barracão e mandou-os para as
câmaras de gás. Desinfectou a sala vazia, mandou mudar os lençóis e outros
doentes, desinfectados e despiolhados, foram transferidos para o barracão.
Depois desinfectaram o pavilhão vazio e assim sucessivamente. "Realmente
travou a epidemia, mas não lhe passou pela ideia chegar ao mesmo resultado sem
assassinar 1500 pessoas", comenta Lingens.
Nos
pavilhões de judeus e ciganos, as pessoas não chegavam a morrer das epidemias.
Eram assassinadas. As mulheres grávidas eram enviadas para as câmaras de gás,
assim como os doentes e os sem forças para os trabalhos forçados. Foram muitas
as mães que preferiram asfixiar os seus bebés, para os poupar à morte em mãos
alheias, porque a maioria dos recém-nascidos eram afogados pelos guardas SS.
Recordações
angustiantesAuschwitz
foi a experiência central da vida de Lingens, e os fantasmas das pessoas que
conheceu na fábrica da morte acompanhá-la-ão até ao fim dos seus dias. Havia
médicos pouco escrupulosos que exigiam que os doentes com malária lhes dessem a
sua porção de pão, a troco de quinino. E houve mulheres que se transformaram em
prostitutas no bordel de Auschwitz, porque assim tinham direito a uma melhor
ração alimentar, a um duche diário e a uma habitação mais confortável.
Ainda hoje é
assombrada pelo fantasma da fome, ou pelo da jovem que não pôde ajudar, porque
recebera 25 chicotadas e fora obrigada a ficar de pé durante três dias e três
noites, com água fria até à cintura. Era o castigo para os que se atreviam a
fazer amor em Auschwitz e eram surpreendidos. Como também não consegue esquecer
o grito colectivo de 100 pessoas encerradas nas câmaras de gás e, "após 15
minutos", o silêncio absoluto. "Outra vez os gritos, depois o
silêncio, uma, duas, três vezes."
Numa noite,
EllaLingens e as suas companheiras contaram 60 viagens de um camião carregado
de cadáveres, das câmaras de gás até aos crematórios. Depois começava a sair
fumo pelas chaminés e o cheiro inconfundível dos corpos queimados espalhava-se
por todo o campo de Auschwitz.
Enquanto
centenas de milhares de pessoas se transformavam em cinzas, Mengele continuava
as experiências como um possesso,no seu pavilhão de horrores, uma antecâmara da
morte. Sessenta pares de gémeos foram abertos pelo seu bisturi e, de todos
eles, só sobreviveram sete pares.
O "Anjo
da Morte" era para Lingens "um cínico incrível", com uma
inteligência superior à do resto dos médicos SS, que tinha a preocupação de
fazer com que os irmãos morressem à mesma hora, pela mesma causa. Assim podia
comparar os órgãos, que enviava depois, conservados, para o Instituto de
Biologia Genética de Berlim, em pacotes com a inscrição "Urgente, Material
de Guerra".
Mengele
achava que as condições do campo eram más e introduziu, inclusive, algumas
melhorias, mas "assassinava a sangue-frio, sem nenhuns problemas de
consciência". Olhava com orgulho os "dossiers" com os resultados
das suas investigações e só lamentava que, no futuro, pudessem cair"nas
mãos dos bolchevistas".
EllaLingens
teve a sorte de não ser colocada no Pavilhão das Experiências, porque não teria
resistido. Para experimentar métodos de reanimação em pessoas congeladas,
Mengele baixava a temperatura do corpo das vítimas até aos limites da paragem
cardíaca, e depois tentava aquecê-las com cobertores ou cobrindo-as com mulheres
nuas.
Dava só água
do mar a beber aos prisioneiros, até morrerem de sede, para comprovar a
resistência do ser humano em caso de naufrágio. Os esqueletos das pessoas com
anomalias eram enviados como troféus para a colecção da Reichsuniversitât, em Berlim.
Ligava o peito das mulheres que tinham acabado de parir, proibindo-as de
amamentar os filhos, para determinar quanto tempo os recém-nascidos podiam
viver sem se alimentarem.
Os médicos e
os "outros"Um dia,
Mengele chamou EllaLingens o seu gabinete e disse-lhe que tinha uma informação
decerto surpreendente para ela. "Sabia que no seu pavilhão há relações
entre lésbicas?" perguntou. "Claro que eu sabia", lembra a
prisioneira. "E não faz nada para o impedir?" insistiu. "Era uma
situação impossível, fechavam mulheres jovens durante anos num ambiente onde
não havia nada que pudessem amar, uma criança, um animal, um flor, era tudo tão
asqueroso que qualquer ser humano se degradava", lembra Lingens.
Noutra
ocasião, o carniceiro de luvas brancas e botas de cabedal perguntou-lhe as
razões por que a tinham enviado para Auschwitz. Lingens respondeu que fora
denunciada por ter ajudado a tirar judeus do país. "Como é que se pode ser
tão imbecil ao ponto de pensar que isso é possível?" Ella atreveu-se a
responder que havia casos em que tinham conseguido, com dinheiro.
"Naturalmente que vendemos judeus", respondeu Mengele. "Seríamos
estúpidos se o não fizéssemos."
"Não
tinha razões para ter medo de Mengele", diz Lingens. Para ele havia duas
categorias de pessoas, "os médicos e os outros". Mengele representava
as duas caras de Mefistófeles. No meio dos corpos raquíticos e humilhados dos
prisioneiros, era um homem bem parecido, elegante, impecável, de uma cortesia
imperturbável para com as suas vítimas. Tão depressa salvava um judeu, porque
era médico, como atirava um recém-nascido para o lume, porque chorava demais,
com a mesma indiferença. Lingens não conseguia suportar Auschwitz, e pediu para
ser transferida para o campo de concentração de Dachau, outro inferno; mas se
algum dia a libertassem, ficaria mais perto de casa, para regressar. Mengele
não queria que ela saísse de Auschwitz, mas perante os rogos da prisioneira,
aprovou o pedido com indiferença. "Não quero entravar o seu caminho para a
felicidade", disse-lhe, como se Dachau fosse um paraíso.
Em
Auschwitz, EllaLingens perdeu a dignidade, passou fome e frio. Regressou a
Viena com o cabelo todo branco e foi um dos momentos mais duros da sua vida.
"Soube que o meu marido, julgando-me morta, tinha casado com outra, o meu
irmão tinha morrido, combatendo ao lado da Resistência, na Jugoslávia, a casa
dos meus pais fora bombardeada. O meu filho não me reconheceu e os meus
vestidos...", diz com um olhar fixo e um suspiro, "...estavam comidos
pelas traças".
Tradução de
Maria do Carmo Cary
Texto originalmente publicado no Expresso a 28 de janeiro de 1995, por
ocasião do 50º aniversário da libertação de Auschwitz expresso.sapo.pt