quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Ella Lingens

Ao lado do "Anjo da Morte"

Ella Lingens, embora "ariana de raça pura "foi levada para Auschwitz por esconder judeus; como médica, foi obrigada a trabalhar ao lado de Mengele, o "Anjo da Morte", e testemunhou algumas das atrocidades por este praticadas. Faleceu em 2002.
"Tinha um futuro promissor à sua frente. EllaLingens fora uma das alunas mais brilhantes da Faculdade de Medicina, casara com um colega e tinha um filho de caracóis louros que estava a aprender a balbuciar "mamã". Acabou em  Auschwitz, a trabalhar sob as ordens do "Anjo da Morte", Josef Mengele."  Adam Pieczynski  
No dia em que passam 70 anos da libertação dos prisioneiros, e para assinalar um acontecimento histórico, o Expresso disponibiliza online um texto publicado originalmente a 28 de janeiro de 1995. 
Ella Lingens era admirada nos cafés de Viena pelas suas convicções sociais-democratas, andar emancipado e provocante, e fascinantes olhos azuis. Quando escondeu, no andar onde morava, judeus perseguidos pelos nacionais-socialistas e os ajudou a sair do país, não sabia que uma cadeia de infortúnios e denúncias a levaria ao pior pesadelo da sua vida.
Como prisioneira em Auschwitz, teve de trabalhar sob as ordens do "Anjo da Morte", Josef Mengele, um médico tão brilhante como diabólico, que distribuía chocolates pelas crianças judias e ciganas, antes de as submeter a experiências e torturas atrozes ou de as conduzir pessoalmente para as câmaras de gás, no seu descapotável verde.
Agora, aos 87 anos, meio século depois da libertação de Auschwitz, Ella conserva ainda a determinação e a vontade de viver que a salvaram da morte. A sua figura frágil, encolhida num enorme cadeirão, domina suavemente o ambiente da casa rústica onde mora, nos arredores de Viena.
EllaLingens foi obrigada a escolher entre a vida e a morte dos seus doentes, "como se fosse Deus", pois não podia desperdiçar medicamentos escassos, em casos que pareciam irreversíveis. "A quem dar os medicamentos, a uma mãe com muitos filhos ou a uma rapariga nova?" - tinha de perguntar a si mesma. "A quem administrar uma injecção, a um velho que, em qualquer caso, vai morrer, ou dividi-la por dois jovens?"
EllaLingens era catalogada pelos burocratas do Terceiro Reich como "uma ariana de raça pura", o que lhe permitiu esconder os seus amigos judeus sem que desconfiassem dela. Na "Noite de Cristal", em Novembro de 1938, quando os judeus foram espancados nas ruas, as suas casas e lojas destruídas e os seus livros queimados, alguém tocou à porta do andar onde moravam os Lingens. Era o engenheiro Wiesenfeld, que chegou de pijama, a tremer, para se refugiar em casa deles, trazendo na mão uma escova de dentes.
Pela janela chegava um ruído insuportável, de vidros a estilhaçarem-se, bramidos e gritos das hordas nazis, e o engenheiro Wiesenfeld disse-lhes: "Invejo-vos." "Porquê?" - perguntouElla. "Porque vocês não são judeus". O refugiado ficou três semanas e foram chegando "mais e mais". Finalmente, o andar estava tão cheio, conta Ella, "que o meu marido e eu fomos morar para o hotel".
Foram meses de tensão trágica, e por vezes absurda. Erika, uma jovem de 19 anos, a última judia que esconderam, fê-los passar o susto de vida deles, quando, farta da rotina da vida clandestina, de estar fechada e de apanhar calor, resolveu tomar banho de sol nua, no parapeito da janela do "atelier" onde moravam os Lingens. Os alunos de um liceu que ficava em frente do edifício pensaram que se tratava de uma louca suicida e chamaram a polícia. "Não nos descobriram por milagre" conta Lingens. Antes que os homens de uniforme forçassem a porta do andar, chegou uma amiga da família, "completamente ariana", que convenceu a polícia de que fora ela que estivera a tomar banho de sol.
Mas Ella confiou demais na sorte e continuou a arranjar documentos falsos para que os perseguidos pudessem partir para o exílio, acabando por ser denunciada à Gestapo.

Médica à força
Chegou a Auschwitz no fim do Inverno de 1942. Aí começou, pela primeira vez, a praticar medicina, no barracão das prisioneiras alemãs e austríacas doentes. Trabalhou às ordens de vários médicos, o último dos quais foi Mengele. Recorda o Dr. Rohde, um SS, que, para suportar as escolhas de vítimas para as câmaras de gás, no pavilhão dos doentes ou no cais da estação de caminho-de-ferro, "se embebedava até quase ficar inconsciente".
Não havia camas suficientes e os doentes dormiam aos três e aos quatro nos beliches. Havia piolhos, epidemias de febre tifóide e grassava uma doença contagiosa causada pela desnutrição, que perfurava a pele até aos ossos. "A minha vida lá era como se me tivesse oferecido hoje como voluntária para combater uma epidemia no Bangladesh ou no Ruanda, um trabalho esgotante, para ajudar as pessoas, sem saber o que acontecia ao lado", diz Lingens.
Na pior época da epidemia de febre tifóide, Lingens tinha a seu cargo 750 doentes. "Foi justamente Mengele, que dividia o seu tempo entre as experiências brutais com gémeos e anões e o trabalho de organização sanitária, que travou a epidemia." Evacuou os 1500 doentes de um barracão e mandou-os para as câmaras de gás. Desinfectou a sala vazia, mandou mudar os lençóis e outros doentes, desinfectados e despiolhados, foram transferidos para o barracão. Depois desinfectaram o pavilhão vazio e assim sucessivamente. "Realmente travou a epidemia, mas não lhe passou pela ideia chegar ao mesmo resultado sem assassinar 1500 pessoas", comenta Lingens.
Nos pavilhões de judeus e ciganos, as pessoas não chegavam a morrer das epidemias. Eram assassinadas. As mulheres grávidas eram enviadas para as câmaras de gás, assim como os doentes e os sem forças para os trabalhos forçados. Foram muitas as mães que preferiram asfixiar os seus bebés, para os poupar à morte em mãos alheias, porque a maioria dos recém-nascidos eram afogados pelos guardas SS.

Recordações angustiantesAuschwitz foi a experiência central da vida de Lingens, e os fantasmas das pessoas que conheceu na fábrica da morte acompanhá-la-ão até ao fim dos seus dias. Havia médicos pouco escrupulosos que exigiam que os doentes com malária lhes dessem a sua porção de pão, a troco de quinino. E houve mulheres que se transformaram em prostitutas no bordel de Auschwitz, porque assim tinham direito a uma melhor ração alimentar, a um duche diário e a uma habitação mais confortável.
Ainda hoje é assombrada pelo fantasma da fome, ou pelo da jovem que não pôde ajudar, porque recebera 25 chicotadas e fora obrigada a ficar de pé durante três dias e três noites, com água fria até à cintura. Era o castigo para os que se atreviam a fazer amor em Auschwitz e eram surpreendidos. Como também não consegue esquecer o grito colectivo de 100 pessoas encerradas nas câmaras de gás e, "após 15 minutos", o silêncio absoluto. "Outra vez os gritos, depois o silêncio, uma, duas, três vezes."
Numa noite, EllaLingens e as suas companheiras contaram 60 viagens de um camião carregado de cadáveres, das câmaras de gás até aos crematórios. Depois começava a sair fumo pelas chaminés e o cheiro inconfundível dos corpos queimados espalhava-se por todo o campo de Auschwitz.
Enquanto centenas de milhares de pessoas se transformavam em cinzas, Mengele continuava as experiências como um possesso,no seu pavilhão de horrores, uma antecâmara da morte. Sessenta pares de gémeos foram abertos pelo seu bisturi e, de todos eles, só sobreviveram sete pares.
O "Anjo da Morte" era para Lingens "um cínico incrível", com uma inteligência superior à do resto dos médicos SS, que tinha a preocupação de fazer com que os irmãos morressem à mesma hora, pela mesma causa. Assim podia comparar os órgãos, que enviava depois, conservados, para o Instituto de Biologia Genética de Berlim, em pacotes com a inscrição "Urgente, Material de Guerra".
Mengele achava que as condições do campo eram más e introduziu, inclusive, algumas melhorias, mas "assassinava a sangue-frio, sem nenhuns problemas de consciência". Olhava com orgulho os "dossiers" com os resultados das suas investigações e só lamentava que, no futuro, pudessem cair"nas mãos dos bolchevistas".
EllaLingens teve a sorte de não ser colocada no Pavilhão das Experiências, porque não teria resistido. Para experimentar métodos de reanimação em pessoas congeladas, Mengele baixava a temperatura do corpo das vítimas até aos limites da paragem cardíaca, e depois tentava aquecê-las com cobertores ou cobrindo-as com mulheres nuas.
Dava só água do mar a beber aos prisioneiros, até morrerem de sede, para comprovar a resistência do ser humano em caso de naufrágio. Os esqueletos das pessoas com anomalias eram enviados como troféus para a colecção da Reichsuniversitât, em Berlim. Ligava o peito das mulheres que tinham acabado de parir, proibindo-as de amamentar os filhos, para determinar quanto tempo os recém-nascidos podiam viver sem se alimentarem.

Os médicos e os "outros"Um dia, Mengele chamou EllaLingens o seu gabinete e disse-lhe que tinha uma informação decerto surpreendente para ela. "Sabia que no seu pavilhão há relações entre lésbicas?" perguntou. "Claro que eu sabia", lembra a prisioneira. "E não faz nada para o impedir?" insistiu. "Era uma situação impossível, fechavam mulheres jovens durante anos num ambiente onde não havia nada que pudessem amar, uma criança, um animal, um flor, era tudo tão asqueroso que qualquer ser humano se degradava", lembra Lingens.
Noutra ocasião, o carniceiro de luvas brancas e botas de cabedal perguntou-lhe as razões por que a tinham enviado para Auschwitz. Lingens respondeu que fora denunciada por ter ajudado a tirar judeus do país. "Como é que se pode ser tão imbecil ao ponto de pensar que isso é possível?" Ella atreveu-se a responder que havia casos em que tinham conseguido, com dinheiro. "Naturalmente que vendemos judeus", respondeu Mengele. "Seríamos estúpidos se o não fizéssemos."
"Não tinha razões para ter medo de Mengele", diz Lingens. Para ele havia duas categorias de pessoas, "os médicos e os outros". Mengele representava as duas caras de Mefistófeles. No meio dos corpos raquíticos e humilhados dos prisioneiros, era um homem bem parecido, elegante, impecável, de uma cortesia imperturbável para com as suas vítimas. Tão depressa salvava um judeu, porque era médico, como atirava um recém-nascido para o lume, porque chorava demais, com a mesma indiferença. Lingens não conseguia suportar Auschwitz, e pediu para ser transferida para o campo de concentração de Dachau, outro inferno; mas se algum dia a libertassem, ficaria mais perto de casa, para regressar. Mengele não queria que ela saísse de Auschwitz, mas perante os rogos da prisioneira, aprovou o pedido com indiferença. "Não quero entravar o seu caminho para a felicidade", disse-lhe, como se Dachau fosse um paraíso.
Em Auschwitz, EllaLingens perdeu a dignidade, passou fome e frio. Regressou a Viena com o cabelo todo branco e foi um dos momentos mais duros da sua vida. "Soube que o meu marido, julgando-me morta, tinha casado com outra, o meu irmão tinha morrido, combatendo ao lado da Resistência, na Jugoslávia, a casa dos meus pais fora bombardeada. O meu filho não me reconheceu e os meus vestidos...", diz com um olhar fixo e um suspiro, "...estavam comidos pelas traças".
Tradução de Maria do Carmo Cary

Texto originalmente publicado no Expresso a 28 de janeiro de 1995, por ocasião do 50º aniversário da libertação de Auschwitz

expresso.sapo.pt

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Memória das Vítimas do Holocausto

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é celebrado em 27 de Janeiro, e foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 1 de Novembro de 2005, através da resolução 60/7.
Esse dia tem como objetivo lembrar a data de 27 de Janeiro de 1945, quando o Exército Soviético libertou as pessoas que estavam no maior campo de concentração do regime nazista em Auschwitz na Polónia.
Todos os anos o secretário-geral da ONU traz uma mensagem em memória das vítimas do holocausto, lembrando os horrores e relembrando a necessidade de respeito aos diretos humanos dentro da sociedade.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Sabias que...?


     O calendário gregoriano surgiu em virtude de uma modificação no calendário juliano, realizada em 1582, para ajustar o ano civil, o do calendário, ao ano solar, decorrente do movimento de elipse realizado pela Terra em torno do Sol. Antes de Júlio César (100 a.C. – 44 a.C.), o calendário que vigorava em Roma era dividido em 355 dias e 12 meses, o que causava um grande desajustamento ao longo do tempo, pois as estações do ano passavam a ocorrer em datas diferentes. Quando se tornou ditador da República romana, Júlio César resolveu reformar o calendário para adequá-lo novamente ao tempo natural.Para isso, foi necessário criar, em 46 a.C., um ano com 15 meses e 455 dias para compensar a diferença, este ano ficou conhecido como o “ano da confusão”. A reforma de Júlio César instituiu o ano depois de 45 a.C. com 365 dias e seis horas, divididos em 12 meses, o que conseguiu resolver o problema durante um tempo. As seis horas que sobravam de cada ano seriam compensadas a cada quatro anos com a inclusão de mais um dia em fevereiro, os dias bissextos.No entanto, ainda persistiu a diferença entre o ano do calendário e o ano natural, sendo que durante a Idade Média foram várias as tentativas de resolvê-la. O Concílio de Trento, realizado em 1545, decidiu pelas alterações no calendário da Igreja, cabendo a Gregório XIII instituir o novo calendário, que passaria a chamar-se calendário gregoriano em sua homenagem. Para adequar a data da Páscoa com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte, o papa Gregório XIII ordenou que o dia seguinte a 4 de outubro de 1582 passasse a ser o dia 15 de outubro. Um salto de 11 dias! os dias bissextos não ocorreriam nos anos centenários (terminados em 00), a não ser que fossem divisíveis de forma exata por 400.

A maior parte do mundo católico aceitou a mudança, mas foram vários os países que rejeitaram a alteração, fazendo com que mais de um calendário existisse no mundo cristão. Os últimos países a adotarem o calendário gregoriano na Europa foram a Grécia, em 1923, e a Turquia, em 1926.


Tales Pinto,historiador

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A PAZ









Escola de Alfarazes

Ano Novo


O que desejamos para este Ano Novo 2016

Muita saúde para a nossa família e para todas as pessoas

Que todas as pessoas sejam felizes

Muito amor e sucesso para todas as famílias

Que os doentes deixem de sofrer                                                                               

Muita paz em todo o mundo

Muitos brinquedos para todas as crianças

Que ninguém passe fome e que todos tenham roupa para vestir

Que as professoras tenham muita paciência connosco

Que as pessoas não morram muito jovens

Que todas as pessoas vivam alegres, sem preocupações

Que não haja pobreza no mundo

Que não haja falta de emprego em Portugal

 

(Turma do 1º/2º Anos. Escola Básica de Alfarazes)

Muita saúde

Alegria e amor

Que sejamos todos amigos

Ter muito carinho

Ter uma boa família

Poder brincar

Que haja paz no mundo

Que pare de haver poluição

Que todas as crianças tenham direito a ir à  escola

Estudar e ter boas notas

Nunca se separar da família e dos amigos

Ajudar as pessoas que precisam

Participar no que nos pedem

Que as pessoas sejam bondosas

Não fazer asneiras nem fazer mal

Saber perdoar

Respeitar toda a gente

Ter comportamentos cívicos

Não mentir

Que haja comida para toda a gente

Que haja vontade de fazer coisas novas

Dar liberdade à imaginação

Que haja esperança

(Turma do 3º/4º Anos, Escola Básica de Alfarazes)