A romaria ao “Senhor dos Aflitos” comemora-se, todos os anos, em dia de Quinta-Feira de Ascensão, no Lugar do Barroquinho, freguesia de Panóias, Diocese da Guarda.
Segundo a lenda, na
segunda metade do século XIX, em ano difícil de precisar, um alfaiate de nome
Francisco Neves, morador em Panoias de Baixo, regressava, já noite cerrada das
bandas de Santa Ana d’Azinha, do lugar de Demoura, por veredas perdidas em
densos matagais. Antes de se aproximar do lugar de Valcôvo, viu-se de repente,
perseguido por dois valentes lobos que o nosso alfaiate foi mantendo à
distância com o estratagema de acender fósforos e cigarros. Tendo notado que os
lobos o haviam abandonado, antes de chegar ao Valcôvo, contrariando a sua
intenção de ali pernoitar, decidiu continuar seu caminho, preocupado por sua
esposa que estava para ser mãe. Eis senão quando, já próximo do Barroquinho, se
viu novamente em tão má companhia. Ali, porém, esgotados fósforos e cigarros,
viu-se o nosso herói em suprema angústia: a distância dos lobos minguava a cada
passo; as pernas negavam-se a fazer-lhe a vontade; e o susto não o deixava
raciocinar; via já os lobos de goelas escancaradas e dentes ameaçadores; mais
uns passos e seria o fim. Mas o homem era crente. Pela sua mente passou um raio
de luz. Da sua alma subiu uma prece: «Senhor dos Aflitos, valei-me». Ali mesmo,
na sua frente, uma fraga se apresentou, suave de subir e segura no seu cimo. Em
dois pulos galgou aquela distância e viu-se em cima do pequeno morro. Correram
também os lobos. Mas a régua do alfaiate é agora a nova defesa. Horas largas
lutou, defendendo dos lobos a entrada da sua pequena fortaleza. Sentia o
coração apertado. Já lhe faltava o alento. A única força que sentia vinha-lhe
da lembrança da esposa e da sua fé em Deus. Alta madrugada. Na Quinta do
Banheiro ladraram os cães de guarda. Um assobio do alfaiate e, em breve,
assiste impressionado à feroz batalha de cães e lobos. Estava salvo. Era
quinta-feira d’ Ascensão. Esgotado e sem fala alcançou a sua casa. Passado o
susto e recuperada a fala, conta à família a sua história. E promete
solenemente que volvido um ano voltará com sua família ao Barroquinho em
romagem de agradecimento ao “Senhor dos Aflitos”. Cada ano que passava crescia
o número dos que se incorporavam a esta manifestação de fé. À beira do barroco
depositavam generosamente suas ofertas, vindo com elas a construir, no cimo do
penedo, o nicho que ainda hoje se vê e no qual existe gravada a data de 1889.
As romagens continuaram. Aumentou, o número dos devotos que já vinham mesmo das
freguesias vizinhas; cresceu a fé e a generosidade e ergueu-se a principal
capela que era apenas a capela-mor da atual. Um brasileiro originário de João
Antão que, vendo-se um dia atacado por um bando de criminosos, invocou em seu
auxílio o Senhor dos Aflitos, tendo misteriosamente escapado ileso, ao
regressar a Portugal ofereceu à capela primitiva a imagem que ainda hoje se
venera no Barroquinho.
O "Senhor dos Aflitos”
comemora-se, este ano, no dia 26 de maio.
Tr Trabalho de pesquisa.
Fontes: Romaria
atrai milhares de devotos ao Barroquinho - Agência ECCLESIA
Bairro da Luz,3