terça-feira, 24 de maio de 2022

A romaria ao “Senhor dos Aflitos"

 A romaria ao “Senhor dos Aflitos” comemora-se, todos os anos, em dia de Quinta-Feira de Ascensão, no Lugar do Barroquinho, freguesia de Panóias, Diocese da Guarda.

Segundo a lenda, na segunda metade do século XIX, em ano difícil de precisar, um alfaiate de nome Francisco Neves, morador em Panoias de Baixo, regressava, já noite cerrada das bandas de Santa Ana d’Azinha, do lugar de Demoura, por veredas perdidas em densos matagais. Antes de se aproximar do lugar de Valcôvo, viu-se de repente, perseguido por dois valentes lobos que o nosso alfaiate foi mantendo à distância com o estratagema de acender fósforos e cigarros. Tendo notado que os lobos o haviam abandonado, antes de chegar ao Valcôvo, contrariando a sua intenção de ali pernoitar, decidiu continuar seu caminho, preocupado por sua esposa que estava para ser mãe. Eis senão quando, já próximo do Barroquinho, se viu novamente em tão má companhia. Ali, porém, esgotados fósforos e cigarros, viu-se o nosso herói em suprema angústia: a distância dos lobos minguava a cada passo; as pernas negavam-se a fazer-lhe a vontade; e o susto não o deixava raciocinar; via já os lobos de goelas escancaradas e dentes ameaçadores; mais uns passos e seria o fim. Mas o homem era crente. Pela sua mente passou um raio de luz. Da sua alma subiu uma prece: «Senhor dos Aflitos, valei-me». Ali mesmo, na sua frente, uma fraga se apresentou, suave de subir e segura no seu cimo. Em dois pulos galgou aquela distância e viu-se em cima do pequeno morro. Correram também os lobos. Mas a régua do alfaiate é agora a nova defesa. Horas largas lutou, defendendo dos lobos a entrada da sua pequena fortaleza. Sentia o coração apertado. Já lhe faltava o alento. A única força que sentia vinha-lhe da lembrança da esposa e da sua fé em Deus. Alta madrugada. Na Quinta do Banheiro ladraram os cães de guarda. Um assobio do alfaiate e, em breve, assiste impressionado à feroz batalha de cães e lobos. Estava salvo. Era quinta-feira d’ Ascensão. Esgotado e sem fala alcançou a sua casa. Passado o susto e recuperada a fala, conta à família a sua história. E promete solenemente que volvido um ano voltará com sua família ao Barroquinho em romagem de agradecimento ao “Senhor dos Aflitos”. Cada ano que passava crescia o número dos que se incorporavam a esta manifestação de fé. À beira do barroco depositavam generosamente suas ofertas, vindo com elas a construir, no cimo do penedo, o nicho que ainda hoje se vê e no qual existe gravada a data de 1889. As romagens continuaram. Aumentou, o número dos devotos que já vinham mesmo das freguesias vizinhas; cresceu a fé e a generosidade e ergueu-se a principal capela que era apenas a capela-mor da atual. Um brasileiro originário de João Antão que, vendo-se um dia atacado por um bando de criminosos, invocou em seu auxílio o Senhor dos Aflitos, tendo misteriosamente escapado ileso, ao regressar a Portugal ofereceu à capela primitiva a imagem que ainda hoje se venera no Barroquinho.

O            "Senhor dos Aflitos” comemora-se, este ano, no dia 26 de maio.

 

Tr          Trabalho  de pesquisa. Fontes: Romaria atrai milhares de devotos ao Barroquinho - Agência ECCLESIA

Bairro da Luz,3


Fotografias: Sapo
Professor Agostinho Lopes