domingo, 17 de janeiro de 2021

Vencedores do Concurso Literário “Contos de Natal” | BMEL



    Os alunos do nosso Agrupamento participaram no Concurso Literário “Contos de Natal” promovido pela Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço.

    De entre os contos recebidos, foram selecionados 3 de cada escalão: Público Infantil e Público Juvenil. Os contos selecionados foram ilustrados por duas artistas locais, Catarina Flor e Eva Leporino.     Agradecemos a participação dos alunos e professores envolvidos. Parabéns a todos os que participaram e aos alunos vencedores!

Contos selecionados

Infantil
João, 5º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo
Tomás, 5º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo

Juvenil

Maria João, 8º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo
Juliana, 9º ano, Escola Básica de S. Miguel

Conto de Tomás, 5º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo. Ilustração de Catarina Flor.
 
Um Natal invulgar!
 
    Era uma vez uma família que estava espalhada pelo país. Todos os anos, visitavam-se no Natal, em casa dos avós, numa aldeia da Beira. Uma parte da família tratava da alimentação e a outra parte preparava o local da festa e decorava-o.
    Houve um ano em que não decoraram a casa dos avós a tempo. Quando as crianças chegaram lá e não viram o local enfeitado, ficaram muito tristes e preocupados. De seguida, quem não decorou, explicou-lhes o que tinha acontecido: não havia decorações de Natal nas lojas porque tinha havido um problema com os fornecedores e os lojistas venderam tudo o que tinham no armazém.
    Todos ficaram perplexos e tentaram arranjar soluções. Um dos rapazes, triste, disse que não havia soluções más e que tinham de arranjar algo que melhorasse e alegrasse o espaço. Nesse momento, a irmã do menino referiu que poderiam fazer as suas próprias decorações e assim também viveriam o verdadeiro espírito de Natal.
    Todos concordaram e começaram a formar grupos de trabalho. Reuniram materiais tais como papel colorido, cartolinas, cola, purpurinas… tudo o que poderia ser necessário para criar enfeites.
    Os mais novos eram os mais criativos e entusiastas, começaram a fazer estrelas de vários tamanhos, grinaldas com pipocas, bolas de esferovite, anjos com papel jornal… Parecia uma fábrica natalícia familiar tal como a do Pai Natal que se vê nos filmes.
    Os mais velhos preocuparam-se em montar a árvore de Natal. Cortaram um pinheiro no pinhal familiar e fizeram o presépio com musgo. As figuras do presépio foram esculpidas pelo avô que sempre teve muito jeito para trabalhar a madeira.
    Os adultos ficaram responsáveis por fazer a ceia de Natal e organizar a sala de jantar: colocaram uma bela toalha natalícia, tiraram o serviço de jantar da avó, guardado para essas ocasiões, os belos copos de cristal e o faqueiro que já era da bisavó. Ornamentaram a mesa com velas e ramos de pinheiros. Que cheirinho entrava na sala! Da cozinha, vinha o cheiro a canela das filhoses e das rabanadas acabadas de fazer. Toda a família estava a trabalhar para que a Noite de Natal fosse o melhor de sempre! Todos participavam com entusiasmo e dedicação e ninguém estava ligado ao seu telemóvel.
    Quando todos terminaram as suas tarefas, reuniram-se à volta da árvore e ajudaram o mais novo a colocar a estrela de Natal feita de pauzinhos e enfeitada com fios de lã, no topo da árvore. Para dar início aos festejos, iluminaram a árvore com umas luzes antigas da avó. Por fim, acenderam a lareira.
    Quando chegou a hora de jantar, a família reuniu-se à mesa e durante alguns minutos ficaram todos a olhar uns para os outros a admirar a beleza daquela sala. Todos tinham um brilho nos olhos, uma sensação de tranquilidade e de paz pairava no ar. Estavam em família, estavam felizes!
    Por volta da meia- noite, após se terem deliciado com as iguarias natalícias tais como o bacalhau cozido com batatas, o polvo à lagareiro, o arroz doce caseiro, as rabanadas, as filhoses, a aletria e os chocolates, viraram-se de novo para a árvore de Natal e viram o Pai Natal, por trás da árvore, escondido, a colocar os presentes que eles mereciam após esse dia intenso de trabalho e de partilha.
    As crianças deliciaram-se ao abrir os presentes, a avó começou a cantar músicas de Natal e todos a acompanharam. Por sugestão do mais novo, agasalharam-se e foram em grupo partilhar a sua alegria, cantando à porta dos seus vizinhos, que abriram a porta das suas casas para ouvir o coro natalício.
    Os adultos ficaram felizes ao ver que esse dia tinha permitido a união de todos e que os mais novos tinham aproveitado o dia para fazer trabalhos manuais, para conversarem em família, deixando de lado a tecnologia.
    Foi sem dúvida um Natal invulgar, um Natal em que todos participaram para que tudo fosse perfeito!
 
Conto de João, 5º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo. Ilustração de Catarina Flor.
 
O melhor presente de Natal
 
    Na pequena e acolhedora aldeia dos meus avós, protegida pela Estrela que conduziu o pastor até à Serra mais alta de Portugal Continental, vivia uma menina que amava animais mais do que tudo na sua vida. O seu pai tinha coelhos, gatos, cães e galinhas e, apesar de gostar de todos eles, o sonho dela era ter um pavão. Tinha visto aquele animal pela primeira vez numa visita de estudo e, desde então, sonhava ter um.
    Como os seus pais não lho compraram, imaginava ser a bela ave e agia como ela, abrindo os braços para mostrar as cores da sua roupa. Quando as pessoas mais velhas e os seus colegas a viam fazer aquele gesto, riam-se dela e da sua graça. Lá no fundo, aquela menina, de olhos brilhantes e cabelo rebelde, gostava que se rissem dela, pois sentia que ela trazia alguma alegria às pessoas da aldeia.
    Um dia a minha avó, que era sua vizinha e que conhecia o amor dela pelos animais, chamou-a para ir ver os gorduchos e ternurentos cãezinhos da Violeta, mas a feroz mãe, que não consentia que se aproximassem das crias, ferrou-lhe o dente na mão. Preocupada, a minha avó levou-a para casa para lhe desinfetar a mão. Enquanto fazia o curativo, a minha avó perguntou-lhe o que desejava de prenda para o     Natal, já que faltavam poucos dias para a chegada deste importante dia. Empolgada, a criança disse-lhe que já tinha escrito a carta ao Pai Natal e que não poderia partilhar com ela o seu desejo. Mas a minha avó, que observava o comportamento da criança há muito tempo, percebeu que ela queria o tão desejado pavão. Falou como o meu avô e decidiram oferecer-lhe o animal.
    Na noite de consoada, à meia-noite, fomos até ao madeiro de Natal, onde se reuniam todas as famílias da pequena aldeia. Os meus avós avistaram a criança e, discretamente, soltaram o pavão que começou numa correria louca. Todos ficaram admirados com o acontecimento, porque não percebiam donde vinha tal animal, pelo contrário, a menina de olhos grandes, ficou muito alegre, pois percebeu que aquele presente era para ela e, ao mesmo tempo, espantada…ela não tinha a certeza que o Pai Natal concretizasse o seu enorme desejo.
    Com aquela correria, toda o pavão, assustado com a confusão, tocou acidentalmente com a sua asa na majestosa fogueira, pegando fogo. Reparando nas suas dificuldades, a menina que tanto desejava a bela ave, pegou nela e foi a correr enfiá-la dentro do chafariz, provocando uma gargalhada geral.
    A partir desse dia, os seus amigos, quando a viam, brincavam com ela, dizendo “Lá vem a Maria a pavonear-se”.


Conto de Maria João, 8º ano, Escola Básica Carolina Beatriz Ângelo. Ilustração de Catarina Flor.
 
Presente
 
    Olá, o meu nome é Ayo, que significa alegria e felicidade, apesar de muitas vezes ter duvidado. Aquilo que conheço de mim, que é muito pouco, é que nasci em Moçambique e que um dia tive um pai e uma mãe que (provavelmente…) me amavam muito. Vim para Portugal com sete anos e só a saber falar Macua, que é a seguir ao português, a língua mais falada em Moçambique.
    Nunca ninguém me disse porque é que cá vim parar ou o que aconteceu aos meus pais…. Sim, eu sou órfã, ou melhor era…
    Toda a minha vida sempre se resumiu a uma coisa, uma coisa chamada sonho…  
    Quando cheguei a Portugal, era uma criança assustada que nem português sabia falar. A minha adaptação não foi fácil, tenho de admitir. Lembro-me de chegar ao orfanato, da primeira vez…. Era a única rapariga de outra cor, coisa que não me agradava a mim, nem às minhas colegas de quarto. Na semana seguinte, no entanto, já estava na escola a aprender. O primeiro passo foi a língua, tive de aprender a falar português (no início foi um pouco difícil, mas nesta cabeça não há nada que não entre!), logo a seguir tive de aprender a ler. Passados uns meses se não fosse a minha cor, ninguém diria que eu tinha vivido os meus primeiros sete anos de vida em Moçambique!
    Arrisco-me mesmo a dizer que passava facilmente por portuguesa. Mas as minhas colegas de quarto continuavam a não gostar de mim. E eu não percebia porquê. Assim que entrava no dormitório todas se calavam e à noite quando tinha pesadelos e precisava de ir à casa de banho para me recompor, tinha de lá dormir, pois assim que saía a porta do quarto era fechada e trancada.
    Com o passar do tempo todas começaram a desaparecer, o dormitório foi ficando vazio.
    Para onde iam elas? Também nunca ninguém me disse…. Fiquei sozinha…
    Um dia, Ana a Assistente Social do orfanato, entra no meu quarto, num fim de semana solarengo, os beliches todos vazios à exceção do meu, onde me encontro a ler. Entra sem bater.
    Entra contente. Segundo diz… querem adotar-me. Estamos a dois meses do Natal e Ana garante que vai ser rápido, que ainda vou passá-lo com a minha nova família. Será que quero ser adotada?
    Tenho treze anos e estamos a dois meses do Natal…. Cá, no orfanato, é uma época solitária. Antes de vir para cá nunca o tinha festejado, nem sabia o que era… Apesar de recebermos um presente que é normalmente uma peça de roupa quente e de comermos bem, neste momento para mim o Natal é apenas a altura do ano em que me delicio e como pelo resto do ano, sinto um vazio.
    O orfanato está a passar por dificuldades, e nós somos cada vez menos. A Dra. Eunice, a Diretora, está doente, o médico diz que as coisas não estão fáceis…
    Será que quero ser adotada? Foi o momento com que sempre sonhei durante tantos anos.
    Não sei como ser uma boa filha. Com o que vou eu sonhar, o que vou eu ambicionar? Ayo, ouço ao longe. A Ana está a chamar-me. Parece contente… está animada! A alegria dela é contagiante, acabo por me deixar ir na celebração. Sem intenção, penso, confirmo que quero ser adotada. A minha nova vida está a começar.
    A uma semana do Natal conheço a minha nova família, parecem simpáticos. Vou ter uma irmã da minha idade, ela é bonita e chama-se Vera. A Ana deixa que nos conheçamos melhor e percebo que me querem levar para longe, um sítio chamado Guarda.
    Dois dias antes da véspera de Natal chego à Guarda, está frio, acho que estou em hipotermia!
    A cidade está toda iluminada (nem sequer sabia que se iluminavam as casas no Natal), as lareiras estão acesas (nunca tinha visto nenhuma), sinto-me em casa…
    Natal… A minha família…. Oh como sabe bem dizê-lo… A minha família esperou por mim para enfeitarmos a casa, foi mesmo divertido. Encaixei, cuidadosamente, claro, a estrela no topo da árvore de Natal já toda iluminada. Talvez o Natal não seja assim tão mau.
    Recebo dois beijos de boa noite. A cama é confortável, mas estranha. Ouço bater à porta, é a Vera….     Deita-se na minha cama, dormimos abraçadas.
    Véspera de Natal, a casa está numa azáfama! Estou a ajudar a mãe a fazer a comida e tudo cheira maravilhosamente bem. São todos tão simpáticos!
    A árvore está repleta de presentes e chegou a hora de os abrir. São quase todos para mim. Abro-os e sinto-me feliz, mas de repente sinto o sorriso que tenho estampado no rosto desvanecer.
    O pai e a mãe ficam surpresos e perguntam o que mais podem fazer por mim, se gostava de mais algum presente. Anuo, quase que automaticamente. Peço-lhes para doarem os presentes todos que recebi ao meu orfanato. Perguntam-me qual o presente que gosto mais, para ficar com ele.
    Serenamente, respondo que é com eles que quero ficar, são o meu presente. Damos um abraço de família e ao desviar o olhar reparo que está a nevar…. Corro lá para fora para sentir o frio, sinto- o até aos ossos, mas isso não me impede. Estou feliz! O Natal é quem está presente e não os presentes.

Conto de Juliana, 9º ano, Escola Básica de S. Miguel. Ilustração de Catarina Flor.
 
Befana e a Estrela Mágica
 
    Era uma vez, numa pequena vila de Itália, uma velhinha chamada Befana. Ela era uma velhinha solitária, pobre e humilde. Para conseguir um pedaço de pão para se alimentar, vendia rebuçados. As pessoas olhavam-na de lado, pensavam que ela era uma bruxa. Mas, pobre coitada! Não tinha nem onde dormir! Ela estava cansada de tanta tristeza e sofrimento, queria ir para um lugar melhor. Queria uma luz!
    A noite de Natal estava a bater à porta e, mais uma vez, Befana ia passar essa data tão especial na rua, sem um lar para se aquecer e, este ano, sem comida. Todo o dinheiro que tinha gastou-o para comprar ingredientes para os seus rebuçados. Estava desesperada! Há muitos anos que não se via um inverno tão frio como aquele e não tinha como se aquecer.
    Era véspera de Natal, a neve caía, estava toda a gente reunida à mesa, não se via uma única alma pelas ruas daquela vila. Befana caminhava pela escuridão. A fome apertava cada vez mais. Então, decidiu parar para descansar, sentou-se num banco. Lá ao fundo, viu uma menina descalça que apenas vestia um vestido roto e cujas lágrimas a descerem dos seus olhos, banhavam o seu bonito rosto. A velhota não pensou duas vezes e foi ter com a menina. Ao chegar junto dela, viu o desespero na cara daquela pobre criança, então disse:
    - Como te chamas, minha filha?
    - Eu sou Lúcia. E a senhora quem é? - perguntou a menina.
    - Sou Befana. O que se passa, minha rica filha, porque choras?
    Lúcia explicou a situação a Befana. A pequena tinha-se perdido da sua mãe e agora não sabia onde a poderia encontrar. A pobre velhota prontificou-se a ajudá-la. Enquanto procuravam, as duas foram conversando.
    - Então, Lúcia, onde vives? Talvez a tua mãe esteja em casa. - referiu Befana.
    - Eu e a minha mãe não temos casa, vivemos nas ruas desta vila.
    - Não te preocupes! Vamos encontrá-la num instante.
    Continuaram a procurar, mas a neve caí cada vez com mais intensidade e tiveram de parar para se abrigarem. A pequena Lúcia tremia de frio, então a velhota tirou o seu cachecol e envolveu nele a pequena. A neve acalmou um pouco e as duas decidiram continuar em busca da mãe de Lúcia.     Enquanto isso:
    - Então pequenina, já sabes o que vais pedir ao Pai Natal? - perguntou Befana.
    - Queria muito uns rebuçados de limão, são os meus favoritos! E a senhora o que desejou?
    - Queria conhecer o paraíso.
    - Um dia também gostava de lá ir. - proferiu a pequena.
    De repente um vulto surge ao fundo. A pequena reconhece a mãe e os olhos de ambas enchem-se de alegria. Befana sente que cumpriu a sua missão. Depois de muitos abraços e muitos beijinhos entre mãe e filha, Befana agarra nos últimos rebuçados que tinha e entrega-os a Lúcia, dizendo:
    - Aqui tens, minha filha, o teu desejo de Natal foi concretizado, tens a tua mãe e alguns rebuçados de limão.
    Eis que uma estrela, passa pelo céu e ilumina aquela noite escura. Befana fica maravilhada com o espetáculo no céu e quando olha para baixo vê as duas transformarem-se em anjos. A menina, já não vestia o mesmo vestido roto, agora levava um vestido cor de rosa cheio de brilhantes. O cabelo dela reluzia, os seus olhos brilhavam. A mãe dela levava um vestido azul comprido e as suas mãos já não estavam sujas. Uma luz, descia do céu e nas costas das duas cresciam umas asas enormes que se arrastavam no chão.
    - Está na altura do seu desejo se tornar realidade - disse a mãe da menina, estendendo a mão para Befana.
    A velhinha tornou-se numa bela e elegante jovem, com os cabelos compridos e com um vestido dourado. E juntas as três entraram de mãos dadas no paraíso, onde foram felizes para sempre.