quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Colos inesquecíveis

 Enterramos os nossos amados mortos? 

Não, pois à nossa fina pele ficam colados 

Com os beijos e abraços deles recebidos 

Com o colo e carinho por eles oferecidos, 

Quer em momentos de complexa dor, 

Quer em ousados voos de condor. 

 

Enterramos os nossos inesquecíveis mortos? 

Não. Os mortos enterram-se paulatinamente em nós 

Com tanta força que roubam a minha e a tua voz 

Também abafam os gestos rasgados de luz, 

Trazendo ao de cima uma postura de avestruz 

Sempre que se enterra a cabeça na fina areia, 

E não se alcança a solução para diária epopeia. 

 

Enterramos os nossos caros mortos? 

Não, porque o seu perfume é inebriante, 

A sua luz perpetua-se eterna e bruxuleante, 

Os seus gestos foram e são encantadores 

Qual doces odores de lindas flores.


Professora Emília Barbeira, Escola da Sé


Foto: Professora Margarida Gama, Escola da Sé