Enterramos os nossos amados
mortos?
Não, pois à nossa fina pele
ficam colados
Com os beijos e abraços deles
recebidos
Com o colo e carinho por eles
oferecidos,
Quer em momentos de complexa
dor,
Quer em ousados voos de condor.
Enterramos os nossos
inesquecíveis mortos?
Não. Os mortos enterram-se
paulatinamente em nós
Com tanta força que roubam a
minha e a tua voz
Também abafam os gestos
rasgados de luz,
Trazendo ao de cima uma
postura de avestruz
Sempre que se enterra a cabeça
na fina areia,
E não se alcança a solução
para diária epopeia.
Enterramos os nossos caros
mortos?
Não, porque o seu perfume é
inebriante,
A sua luz perpetua-se eterna e
bruxuleante,
Os seus gestos foram e são
encantadores
Qual doces odores de lindas
flores.
Professora Emília Barbeira, Escola da Sé
Foto: Professora Margarida Gama, Escola da Sé